sábado, 7 de julho de 2012

A ilha das águias gigantes

No último capítulo da trilogia O Senhor dos Anéis, o resgate de Frodo Baggins e Samwise Gamgee, realizado por águias gigantescas, não é somente uma idéia gerada pela imaginação contida nas lendas ou nos contos de fadas; essas portentosas aves habitaram realmente a Nova Zelândia. Hoje extintas, a sua existência foi documentada e explicada recentemente a partir da análise de um antigo DNA dessas águias, encontrado por Michael Bunce, antropólogo da Universidade McMaster do Canadá.
O estudo, publicado pela PloS Biology da própria McMaster descreve minuciosamente a enorme Águia de Haast (Harpagornis moorei) que pesava entre 10 e 15 kg, portanto 40% mais pesada que a maior ave de presa existente hoje em dia: a Harpia ou Águia Real, com 4,5 kg de peso, 2 metros de envergadura e 90 centímetros de altura, 11 a mais que a Águia Careca Americana e bem maior que as espécies encontradas na África e na Europa; espécie que se encontra entre as aves em extinção, sendo rara sua presença no México, na Bolívia e na Argentina.
No Brasil a Harpia Amazônica resiste bravamente, sendo a Floresta Amazônica, principalmente os estados do Amapá e Roraima, na fronteira com a Guiana Francesa e a Venezuela, praticamente seu último hábitat. As águias são aves falconiformes da família dos acipitrídeos, dotadas de bico e garras de considerável robustez, predominantemente predadoras, especialmente aquelas de grande porte.

Michael Bunce extraiu o DNA de ossos fósseis que datam uns 2.000 anos. O antropólogo canadense, ao comentar sua descoberta, disse: “Quando começamos o projeto, nosso objetivo era provar que havia uma relação entre a extinta Águia de Haast e a enorme Águia Australiana de Rabo Cuneiforme (Australian Wedge-tailed Eagle). Mas os resultados dos testes de DNA foram tão radicais que, num primeiro momento, duvidamos de sua autenticidade”. Tais resultados mostraram que a gigante da Nova Zelândia estava mesmo relacionada geneticamente a uma das menores águias do mundo – a Pequena Águia da Austrália e Nova Guiné, que pesa menos de 900 gramas.

Os testes de DNA do fóssil desta espécie (por comparação com o DNA de 16 espécies de águias atualmente existentes) permitiram provar que, numa surpreendentemente rápida evolução, esta espécie está estreitamente relacionada com uma outra atual, com um décimo da sua massa corporal (e que é, simultaneamente, uma das espécies analisadas de menor tamanho). Este fato ilustra a potencial rapidez e plasticidade morfológica de alteração de tamanho no mundo dos vertebrados, especialmente em ecossistemas cujo hábitat se situa em ilhas ou arquipélagos.

“Mais surpreendente ainda foi a descoberta da estreita relação genética que havia entre as duas espécies. Estimamos que o ancestral de ambas tenha vivido há menos de um milhão de anos. Isso significa que uma águia deve ter chegado à Nova Zelândia e que seu peso deve ter aumentado de 10 a 15 vezes nesse período, o que é muito rápido em termos de evolução. Tal aumento de tamanho é inédito em aves e animais”, acrescentou Bunce.

Antes de ser povoada pelos seres humanos há 700 anos, a ilha de Aoteroa, cujo nome original em língua Maori significa “País das Grandes Nuvens Brancas”, atual Nova Zelândia, fora três espécies dos morcegos, o arquipélago era habitado por cerca de 250 espécies de aves e não acolhia nenhum mamífero terrestre. Devido ao seu relativo isolamento, a Nova Zelândia desenvolveu um ecossistema único.

No topo da cadeia alimentar se encontrava a Águia de Haast, único falconiforme a dominar, como grande predador, esse ecossistema majoritariamente insular.

Os cientistas acreditam que esta águia se extinguiu aproximadamente dois séculos após o povoamento da Ilha. As águias caçavam as moas gigantes (Dinornis giganteus) e kiwis (Apteryx australis), uma ave encontrada comumente na Oceania. A Nova Zelândia é também a residência do tuatara, uma espécie antiga de réptil, e do weta um inseto que pode atingir mais de 8 cm de comprimento.

O Moa Gigante era uma ave gigantesca – uma das maiores que já existiram – que viveu na Ilha já na mais recente etapa do Holoceno, até desaparecer há 700 anos.

Sua extinção coincide com a chegada do Homem à Ilha; provas fósseis que consistem em ossos quebrados por ferramentas humanas, carbonizados e com marcas de dentes humanos, demonstram serem os homens os responsáveis pela extinção de magnífica ave, a qual já não possuía mais alguns ossos das asas e nem junções das asas com o corpo. Os Moas se alimentavam de folhas, viviam em pares ou em pequenos grupos familiares e não tinham predadores naturais, isto é, até a chegada do Homem. Existiam 11 espécies diferentes de Moas, a maior delas era o Dinornis maximus, que podia chegar a quase 4 metros de altura e pesar 400 kg.

Muitos dos nichos ecológicos que normalmente teriam sido ocupados por mamíferos, eram preenchidos por aves, incluindo o Kiwi (incapaz de voar) e o Moa. A Nova Zelândia é também a residência do Tuatara, uma espécie antiga de réptil e do Weta, inseto nativo que pode atingir mais de 8 cm de comprimento, muito parecido com um grilo.

Apesar de sua aparência, os Tuataras não são lagartos. Eles são os únicos membros sobreviventes da ordem Rhynchocephalia. Fósseis de Rhyncholephalianos mostram répteis de pequeno e médio porte que eram muito comuns no mundo há cerca de 225/120 milhões de anos, muito antes de o primeiro dinossauro aparecer na Terra. Com o tempo, esses animais foram desaparecendo e há cerca de 60 milhões de anos eles ficaram praticamente extintos, exceto por uma pequena população que vive na Nova Zelândia.

Fonte: René Capriles - Editor da ECO 21 Revista Eco 21, ano XV, Nº 101 abril/2005.

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